domingo, 29 de julho de 2007

A Rolinha do meu Coração


Por B. de Quatre

Comam a minha Carne e Bebam o meu Sangue e O Modo Seguro para Você Receber o Espírito Santo são os mais novos livros de Bruna Surfistinha. Você pode receber de graça na sua casa esses e outros clássicos da literatura Universal clicando AQUI.

Pingue_ _ _ _

Por Rodrigo Lopez-Balthar


Alface folhuda dependurada na carne anuncia o caminho do túnel. Lambi e vomitei.

De Graça

Versão eletrônica (PDF) de Ovelhas que voam se perdem no ceu, livro de Daniel Pellizzari, AQUI

sexta-feira, 27 de julho de 2007

MENOS UMA

Por Rodrigo Lopez-Balthar

É com pesar que comunico a todos a morte de mais uma livraria: a Civilização Brasileira do Shopping Piedade. Esta perda vem se somar às muitas lojas da mesma rede, à bancarrota da Grandes Autores, Sabor dos Saberes, às Livrarias Salvador entre outras, que fecharam por toda a cidade nos últimos dez anos.
Os focos de resistência são poucos e somam, em uma contagem rápida, apenas dez: LDM, Saraiva, Galeria do Livro, duas Sicilianos, três Civilizações Brasileira e duas DILISA’s (estas últimas vendendo quase somente livros didáticos). Se alguém souber de alguma outra, que não seja sebo, avise-me, pois precisamos contabilizar os seus dias de duração.
Aliás, o tom de velório com que comecei este texto, tem o intuito de introduzir uma proposta: um enterro das livrarias de Salvador. E, ressaltar o nosso caráter alegre, festivo e pouco afeito à leitura com um enorme cortejo até o Campo Santo sob o som do Chiclete com Banana, onde enterraríamos os livros em êxtase coletivo.Vamos propor em seus lugares lojas de tambor, atabaque e abadás, estas sim, as reais representações do ser-baiano. Quem quiser ler que se mude para São Paulo ou Rio Grande do Sul.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Nããããão

Por Carol Medrado

Não, não, não. Socorro... socorro...” Continua correndo, mas não adianta. Olha para trás e ele continua lá. Por mais que corra ele continua lá. Corre. Cai numa poça de lama. E o outro lá. Entra num carro. Rápido, mais rápido, ele está se aproximando. Desce do carro. Corre, corre. Entra num bueiro. “Não, não, me deixa em paz!” Sai numa praia, se joga no mar. Nada com todas as suas forças, quebrando as ondas. Fecha os olhos, relaxa flutuando no mar. “Estou livre”. Entre as espumas o perseguidor aparece. Foge, corre. Entra num shopping, se esconde no provador de uma loja. Lá está o seu algoz, refletido no espelho. “Não, não, não...” Corre, está no meio de uma floresta. Corre, corre. Olha para trás, lá está ele, aquela figura assustadora, seu eterno perseguidor, seu maior medo, seu pior inimigo. “Me deixa em paz, por favor, me deixa em paz”. Corre, corre. Chega em casa, se esconde embaixo da cama. Ele aparece, ele está, não há escapatória: “o que é um pontinho vermelho em baixo da cama?”. “Não, não, nããããããão...” Acorda ofegante. “Foi só um pesadelo... maldito Louro José!”

Polpa

Por Rodrigo Lopez-Balthar
No elevador uma mini-saia sobe.
Os dedos descem.
A mini-saia aperta o botão.
Os dedos o zíper.
A mini-saia o ignora teatralmente, virando o rosto para o outro lado.
Os dedos entram na cueca.
A mini-saia sai.
Vendo-a balançar pelo corredor: ejacula, criando uma poça no azulejo marrom.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Fractais

Por Carol Medrado


Eu não entendo nada de filosofia e nem de música. E minha “viagem” sempre partiu da literatura. Por isso posso ter perdido algumas referências importantes para entender o livro Pequenas Catástrofes de Pablo Capistrano. Tive uma certa resistência inicial ao livro por causa disso, mas resolvi jogar pra cima e terminar de lê-lo. Ainda bem. Algumas peças ainda não encaixaram. E é o que me faz achar que eu entendi a história: o livro é um jogo de desencaixe. Sai da caixa, sai do centro e se possível sai do ego ou da persona. Explore a sombra.
O livro conta a história de um professor universitário que reencontra, muitos anos depois, um amigo de infância. O nome do amigo é Demian. Não vou dar o segredo do cofre, cabe dizer apenas que seria interessante ler Demian de Hermann Hesse, assim como ler Nietzsche e Wittgenstein e ouvir a trilha sonora do livro. O Demian de Capistrano é fotógrafo e por isso viajou o mundo todo. Foi durante as suas viagens que ele conheceu o Projeto Zaratustra em que pretende “iniciar” o personagem principal. O Projeto Zaratustra é uma mistura de ciência e religião no qual seus “adeptos” crêem que através do uso de uma droga chamada tetrapharmakon podem provocar a própria evolução e ter contato com Deus. É com o intuito de realizar essa iniciação que os dois viajam para a Europa. É a partir daí que começam as “pequenas catástrofes”? Eu acho que o personagem diria que não, as catástrofes já estão aí, já aconteceram e continuam acontecendo. Basta se atentar à revisão histórica que o personagem faz em sua viagem a Europa. Nessa viagem, que começa pela Alemanha, o personagem rememora a história de seu povo, os judeus, desde as perseguições anteriores às cruzadas até o holocausto. Continuando a viagem os dois chegam até a Grécia, onde será feito o ritual de iniciação. Nesse ritual ele usa o tetrapharmakon e passa cinco dias “suspenso” sobre o efeito da droga. Quando o efeito passa, ele não consegue se lembrar de nada e se vê num quarto de hotel ao lado de mulher que conheceu na viagem, Helena. É a terceira (?) Helena de sua vida, sua mulher e a mulher de Demian tem o mesmo nome. Parece até Manoel Carlos, né? Mas o nome, como tudo nesse texto, não é à toa. Como disse antes, não darei os segredos do cofre. De volta à realidade, ele tem que conviver com o mistério do que aconteceu nesses cincos dias de “ausência” e do que ocorreu entre ele e essa Helena. Nos preparativos de volta para casa ele descobre qual a real intenção de Demian ao procurá-lo: ele acaba sendo usado para levar uma mala cheia de tetrapharmakon para o Brasil. Chegando à Natal ele percebe que não passou incólume ao uso da droga, sendo acometido por pequenas crises de “ausência”. Quando é que começaram as “pequenas catástrofes”? Impossível dizer. O que sei é que a partir de então o personagem se perde totalmente, não tendo controle nem resposta nenhuma sobre a sua própria vida. Onde está Deus? Onde está a verdade? Onde eu estou? No final também acabei perdendo as minhas certezas e referências. Sentia-me como a imagem da capa do livro, entrando em caixinhas cada vez menores, cada vez menores, cada vez menores... sem saber onde tudo começou. Quem segura a caixa? Alguns podem dizer que é Deus. Eu prefiro dizer que é o próprio Capistrano.

Resenha de CAPISTRANO, Pablo. Pequenas Catástrofes. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Currico ou Se entupa de Dinheiro

Por Carol Medrado

Ela virou pra mim e perguntou:

- Pra que é que você quer estudar arte? O que é que a arte vai acrescentar ao seu currículo?

E eu me perguntei:

- Existe vida inteligente dentro dos currículos?

E o pior é que eu acho que não. Acho que ela tá certa. Toda vez que passo por uma seleção de estágio para vaga de RH (argh! Eu sei, eu sei, mas as pessoas têm que viver) fico com a impressão de que se fosse “menas” inteligente eu passaria. “Menas” leitura; “menas” criticidade; “menas” desarrumada (isso é o que eles pensam!). Como diz uma amiga minha: eu não me encaixo no perfil. Tudo bem, na próxima vez eu faço uma lobotomia.

sábado, 21 de julho de 2007

ATWOOD

Por Rodrigo Lopez-Balthar



Existem textos que te arrebatam, não deixando que você o largue nem por um minuto, existem textos que devem ser abandonados para que permaneçam em seu solilóquio impenetrável ou burro e existem livros para serem degustados, cada pedacinho como um precioso néctar, divino para os crédulos, maravilhoso êxtase para os mortais que escolheram a orfandade ateística. Sofri desse maravilhamento ao entrar na tenda de Margaret Atwood.

A autora chegou até mim através de um amigo – mesmo que nunca o tenha conhecido -, Alberto Manguel, que a resenhou com muito vigor e sensibilidade em seu Diario de Lecturas. Após este primeiro encontro procurei-a por todo canto, com vontade de experimentar o mesmo prazer que Alberto. Encontrei-a em São Paulo, num sebo da praça João Mendes, mas só comecei a lê-la em Salvador, melhor, degustá-la.

Margaret tomou minha mão e conduziu-me por planícies geladas, verões com pouco sol, dias sombrios e neve; ela nem precisou dizer que esta era a substância que envolvia a todos e determinava algumas de suas narrativas. No Canadá neva, neva muito, tanto quanto aqui faz sol.

Mas ela me tocou de maneira diferente, a mim que vivo no sol constante. Mesmo diante de imagens nem um pouco próximas - de um povo que vive no gelo – descobri (mais uma vez) que somos os mesmos, que sofremos das mesmas angustias, que a humanidade é uma imensa repetição. Ou, talvez, a minha identificação revele que sou demasiado nórdico para os trópicos. Está explicado o calor que nunca me aquece.




1. ATWOOD, Margaret. A Tenda, tradução de Léa Viveiros de Castro. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
2. MANGUEL, Alberto. Diario de Lecturas, tradução de José Luis López Muñoz. Madrid: Alianza Editorial, 2004.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Non-Sense

Extra!Extra! Nova vítima do desastre da TAM: ACM

Tabary

Por Rodrigo Lopez-Balthar


Ela está dentro da pinacoteca. Mamilos róseos, pele mármore e boca vermelha. Seduzindo todos que passam. Ela imóvel. Nua, no canto de uma enorme sala, esfrega-se macia num pano. Todos querem ser o pano, experimentar o doce pêssego de sua pele, passar a língua em seu triângulo depilado. Sentei-me diante dela cansado e excitado, procurando disfarçar a excitação no programa. Olhos vidrados, imóveis diante da beleza. O segurança olha desconfiado: “Deve ser outro tarado”. A mão dentro das calças. Rápido, mais rápido, mais rápido. Meleira.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Pequena biografia de H.W

Poeta de ocasião
Cleptomaníaco de profissão
Construiu sua carreira
às custas de muita carteira

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Bissexual:

- Tô namorando o homem-aranha.


Por Carol Medrado

SEMGRAÇA

B. de Quatre



Muito obrigado amiga!Valeu por fazer a postagem por mim, estou tão ocupado. Hoje fui a um tatuador, fiz uma tatuagem de dragão e coloquei aquele piercing, lindo. Meu pinto agora tá cool. Vou arrasar no SEMCINE, que está mais para SEMGRAÇA.

Cara de Cool

Por B. de Quatre


Ai, gente, Salvador tá o maior frisson! Tudo por causa do III Seminário Internacional de Cinema (Semcine) que acontece essa semana. Todas as pessoas legais da cidade estavam lá (inclusive eu), se você não estava lá é porque não é legal. Tava lá a menina de cabelo vermelho e coturno, o menino de cabelo vermelho e tatuagem, a garota com brinco no nariz e tatuagem, a riponga, o menino de tatuagem e brinco no nariz, outra menina de cabelo vermelho e coturno, a garota de brinco no nariz cabelo vermelho coturno e tatuagem, o menino de cabelo comprido e coturno, outra riponga, outra menina de cabelo vermelho e tatuagem, outro menino de cabelo vermelho e piercing no nariz. Enfim, só a galera diferente. Tudo muito cooooooooool! Todo mundo com cara de cooool! E vocês sabem que eu adoro tudo que é coool! Confesso pra vocês que me senti perdido com meu pretinho básico. Acho que estou por fora, vou amanhã mesmo fazer minha tatuagem e colocar um piercing no nariz, ou talvez eu coloque no pinto, acho que fica mais diferente. Pra vocês que não foram ao Semcine e portanto não são coooooool, vou passar algumas dicas para que possam disfarçar e fingir uma cara de coool: compre roupas caríííííssimas na Cavalera, mas tatue na testa que odeia patricinhas e playboys, de preferência em inglês porque o português não é lá uma língua muito cool; faça carinha de nojo quando ouvir falar em pagode; ande com Nietzsche embaixo do braço, não precisa ler, não; seja comunista, mesmo morando na Graça, e assim você conseguirá ser o segundo comunista hype do mundo, já que a primeira é Juliana Cunha; pinte as unhas de preto; tenha um blog; franza o cenho quando ouvir a palavra arrocha, para ter cara de cool, quanto mais enrugado melhor; e por último, vá ao próximo Semcine, ou consiga uma pastinha do seminário para circular por aí. Eu já tenho a minha! Muito cooooool! Morram de inveja!

sábado, 7 de julho de 2007

Como manter a Classe no Ônibus Estação Pirajá

Por B. de Quatre



Oi, gente! Estou aqui de novo, só que dessa vez deixando as futilidades de lado e dando (ui!) a minha contribuição social. Consciência social está totalmente in, é a nova tendência para o verão. Comovido com aquela historinha fofa do beija-flor que tenta apagar o incêndio na floresta e percebendo o quanto fui favorecido pela natureza com graça e elegância, resolvi fazer a minha parte e ajudar os mais necessitados. Em primeira mão passarei para vocês algumas regrinhas de etiqueta. Se a Glórinha Kalil pode, eu também posso. Vamos começar falando sobre como manter a classe dentro do ônibus. O que fazer quando você está no fundo do ônibus Estação Pirajá lotado e tem que descer no próximo ponto? Nada justifica perder a classe mesmo nessa situação. Você conseguirá sair gloriosa, cheirosa e bem penteada dizendo: “com licença, por favor. Uma diva está passando”. Pode ter certeza que a passagem se abrirá para você como o Mar Vermelho. Afinal, todos respeitam e admiram uma diva. E o que fazer quando, ainda no ônibus Estação Pirajá, você está sendo espremida? Simples, diga: “por obséquio, você poderia se afastar um pouco? Você está amarrotando o meu Dior”. Eu garanto que a perua vai se afastar e ainda vai morrer de inveja. Como ser educado, nesse mesmo ônibus, se alguém ao seu lado está com braço levantado e tem uma catinga de matar? Proceda assim: “com licença, pude notar que o senhor não está devidamente desodorizado. Gostaria de passar um pouco do meu Chanel nº 5?”. (Sim, porque musa que é musa, sempre anda com seu Chanelllllll na bolsa). Além de você resolver o seu problema, você estará cometendo um ato de grande desprendimento e altruísmo e tornando o mundo mais cheiroso. E o que fazer se um big-afro-descendente enooooorme, forte, másculo e suado está o tempo todo se roçando em você? Ah, meu amor, como diria a chiquéééérrima Marta Suplicy: relaxe e goze!

Ps: No caso da última situação, eu recomendo que as mocinhas estejam usando um protetor diário. Vocês não querem sujar uma lingerie Victoria Secret, não é?

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Homem
Cansado
Da
Vida
Adota
Rainha
Em
Puteiro.

Encontro I

Lágrima escorrendo no rosto negro
quase branco fez o menino pensar se
não era sangue o que via. Tocou o Outro
no ombro: - Eu te amo.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Vivendo na Caixa de Skinner




Por Carol Medrado

Eles costumavam caminhar na orla de manhã cedinho. Roubaram seus celulares e suas carteiras. Passaram a andar de bicicleta no parque. Ele: levou uma paulada na cabeça. Eles: levaram suas bicicletas. Então passeavam com seu cachorrinho no bairro. Foram atacados por um Pit Bull. Desistiram disso também, contentavam-se em ir comprar pão na padaria da esquina. Foram ameaçados por um pivete. Hoje em dia, fazem compras pela Internet e pedem comida à domicílio. Pois é, Skinner, vivemos como ratos. Só nos resta a fuga e a esquiva.

UNI- DUNI- TÊ O ESCOLHIDO FOI VOCÊ / DÊ DESCARGA, POR FAVOR

Por B. de Quatre



Eu adoooooooro histórias de faz de conta! Outro dia me contaram uma tão legal! Mais ou menos assim: era uma vez um reino muito distante onde todas as pessoas viviam felizes e satisfeitas. Era tudo tão lindo! Como em todo reino, havia uma corte. Nessa corte, todo mundo era muito bonzinho, sempre preocupado com o bem estar social. E não poderia ser diferente já que eles tinham Deus no coração. É muito importante ter deus no coração! Nesse lugar o nome do deus era “Real”. A corte adorava o “Real” e em nome do deus eles realizavam sacrifícios humanos. Poxa, essa parte de matar gente não é legal. Coitadinhos! Fora isso, tudo era perfeito e fofo! A corte era tão boazinha que colocava uma musiquinha para as pessoas trabalharem, acho que era assim: lê, lê, lê, lê... Não conheço essa música, não, acho que é um mantra. Ai, eu também queria ouvir uma musiquinha enquanto trabalho, mas acho que eu prefiro um funk. Nesse reino existiam seres muito estranhos! A maioria tinha um só olho, no meio da testa, e andavam tão curvados que só conseguiam enxergar o próprio umbigo. Ai, que horror! Esse povo nunca ouviu falar em RPG? Isso causava alguns problemas: eles esbarravam uns nos outros e se pisavam. Mas ninguém ficava tristinho ou reclamava já que essa era uma prática cultural muito difundida. Outros andavam com a cabeça voltada para cima o que lhes permitia ver as estrelas e achar algumas teias de aranha no teto. Esses acabavam caindo nas fossas, às vezes nunca saiam. O mais legal nesse reino é que todo mundo era igual! Ricos ou pobres todos andavam sempre bem vestidos, com roupas de marca, perfumados e com os cabelos lisinhos! Ai, que inveja! Não era farda, não, mas os homens estavam sempre de bermuda de surfista, camiseta, tênis de marca e o mais importante do vestuário: um caderno embaixo do braço. Essa peça eu realmente não entendo, compromete todo o figurino! Estudar está tão fora de moda! Nesse reino então... Ai, as mulheres eram um luxo! Usavam salto, sempre estavam muito maquiadas, usavam tanto perfume que parecia até que era o cheiro do ambiente (acho que era para isso mesmo, o negócio fedia!). Também havia uma língua própria, para não complicar, o vocabulário era escasso, basicamente: saca, brother?; tá ligado?; é nenhuma; é barril; de fudê; tipo assim e etc ( o etcétera eles não usavam, não, acho que eles nunca nem ouviram falar nisso, fui eu que coloquei para dizer que têm mais palavras). Ai, gente, infelizmente essa história não tem fim. O que eu sei é que correm muitos boatos sobre ela por aí. Tem gente que faz de conta que esse reino é de verdade e comenta que por lá só tem merda. Eu, particularmente, acho isso um absurdo! Afinal, todo mundo pode ter problemas com a privada.

Rodando II

O mini conto UIVO foi publicado no site Usina das Palavras, clique aqui e leia! O Cão, também foi convidado para latir no blog Contos de Cinco Palavras, clique aqui e veja!

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Giselia

Por Carol Medrado


Ela estava relendo o “Cem Anos de Solidão”. Era a história de realismo mágico que ela mais gostava. Era a sua favorita entre todo o resto. A outra, a avó, gostava de ler a sinopse das novelas na Revista da TV. Lia devagarzinho, com dificuldade porque mal tinha conseguido alisar o banco da ciência. A neta às vezes se oferecia para ler, ela rejeitava a oferta. Ela era pequenina. A outra, a neta, era uma vara de tirar caju. Quando ia beijar a avó tinha que se abaixar para beijar seus cabelos. A avó era alegre, jovem. A neta era enfezada, velha. A avó sambava no meio da roda. A outra ficava de braços cruzados: “Descruza esses braços, menina! Braço cruzado é sinal de tristeza!” a avó dizia. A avó era ativa. A neta, uma dorminhoca. A avó adorava contar histórias: ninho de rato em cabelo de mulher, lagartixa que mamava em seio de mulher parida. Quando alguém contestava a veracidade dos “causos” ela soltava uma gargalhada. A neta adorava essas histórias. Eram as histórias de realismo mágico que ela mais gostava. Um dia a avó adoeceu. Não sambava mais, não sorria mais, não brincava mais, não lia a Revista da TV. Só dormia. Virou a neta. A neta ia visitá-la. Entrava no elevador, apertava o botão com o número três. Entrava no quarto com o “Cem Anos de Solidão” embaixo do braço. A avó estava lá, sentadinha na poltrona, elas conversavam um pouco. Entrava no elevador, apertava o botão de número dois. Entrava no quarto com o livro embaixo do braço. A avó estava deitadinha na cama, às vezes ela acordava, mas elas não podiam mais conversar. Entrava no elevador, apertava o número um. Entrava no quarto, o livro embaixo do braço. A avó, ainda deitadinha na cama, vários aparelhos invadindo o seu corpo. Impedindo ela de sorrir, de falar, de dançar... necessidades vitais. Fazendo ela respirar, se alimentar, evacuar... necessidades vitais. Entrava no elevador, número zero. Ela e o livro. A avó estava sentada na cama, sorria, chamava ela para brincar de capitão, reclamava com ela porque usava calças que mostravam a virilha, dizia: “Você até que está mais gordinha”. Levantava da cama e as duas saiam de mãos dadas do hospital. Era a sua favorita entre todo o resto. Essa era a história de realismo mágico que ela mais gostava....

Uivo

Por Rodrigo Lopez-Balthar


Algemada ela parou de gritar, bicho acuado, sabe quando perde. Os piercings pendem nos mamilos. O cabelo: crina de cavalo. A tatuagem malfeita anuncia a bunda, quem quer comer? A saia, pedaço de pano, não esconde a outra boca. Cospe. Nojenta. Uma cicatriz no braço, marcas de injeção. Roxa. Olhos de cadela raivosa, falam sozinhos, não precisam de dublagem. As mãos, pergaminho e veias, pressionam a madeira da cama. Força. Tobogã. Ela se prepara, contrai a bunda. Medo, apesar do costume. Terceiro Olho aberto. Uivo.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Até o chão, mamãe!

Por Carol Medrado

Era mais uma fantástica manhã de sol em Salvador, Bahia, terra do axé, do carnaval, da água de coco, da eterna alegria e de mentes criativas que se superam a cada carnaval criando hits como: “só as cabeças, só as cabecinhas...”. Enfim, ela estava no paraíso. Sua vida ia bem, ela era uma grande advogada, ganhava muito dinheiro, tinha um marido gostosão, uma casa de frente para o mar e podia escolher em que bloco iria sair no carnaval. Geralmente era no Camaleão. Sua vida era perfeita. Mesmo assim, em uma fantástica manhã de sol em Salvador, ela decidiu se suicidar. Estava no trabalho, ia ser ali mesmo, do alto do prédio de trinta andares. Jogou-se.

Tão rápido quanto a queda, surgiu o seu arrependimento.
Pensou no caso importante em que tinha que trabalhar.
Arrependeu-se.
Lembrou que era pecado atentar contra a própria vida.
Arrependeu-se.
Pensou no seu abadá do Camaleão já pago.
Quanto arrependimento!
Lembrou da sua casa maravilhosa.
Arrependimento.
Da sua beleza e juventude.
Arrependimento.
Do seu dinheiro.
Arrependimento.
Salvador.
Arrependimento.
Chiclete com Banana.
“Meu Deus, o que é que eu fiz!?”
Carnaval.
“Socorro, Socorro!!!!!!”
“Já era, já era, já era, agora eu amo Daniela, já era...”
“Não quero morrer!”
“Passou a língua, tem que provar, na língua do negão, ajoelhou tem que rezar...”
“Pai nosso que estais no céu...”
“Voa, voa, vem direto pro meus braços...”
“Santificado seja o vosso nome...”
“Paula dentro, Paula fora, Paula deixe de história...”
“Deus, me salva!”
“Quer ir embora vai, adeus, bye, bye...”
“Um milagre, por favor!”
“Swingão, swingão, swingão, vai até o chão...”
Plaft!

Imediatamente sua alma foi levada por diabinhos de bandana que cantavam: “Tra, tra, ela tá toda metralhada...”. Sorriu: sua alma estava em paz.

Efusão I

Por Rodrigo Lopez-Balthar
a Doumbia
Ela disse pra ele “Estou grávida”. Nem respondeu, ficou olhando a parede, a vida tinha acabado. Num outro momento ela disse “Sou rica”. Um sorriso apareceu no canto da boca. Ele pensou num Big Mac, tirando o pickles é gostoso. Talvez um aborto. Ela lhe mostrou uma foto, a barriga aparecendo, um sorriso grande. Ele continuou pensando no pickles.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Eu quero ser Marieta!


Por B. de Quatre



Ai, gente, eu adoooooro poesia! Outro dia eu achei na estante de papai um livro que é simplesmente ma-ra-vi-lho-s-o! Até agora os meus pêlos de ursinho de pelúcia estão eriçados! Eu até chorei! Eu adoro coisas assim que toquem profundamente no meu ser, que me preencham. Ai, meu Deus! Vocês precisam ler Meu Mundo Criança! Como não se comover com versos como: “Marieta mamão/ Marieta melão/ Melodia melada/ Meia-volta menina”. Ai, acho que vou começar a chorar de novo.... Embora Marieta seja a minha poesia favorita, eu não a recomendaria para crianças, acho que tem uma conotação sexual muito forte, a linguagem realmente é muito plurissignificativa, essa melança toda e esse negócio de meia-volta. Acho que daria um bom funk. Ai, gente, eu também adooooooro funk! Algumas poesias me lembraram A Arca de Noé de Vinicius de Moraes (pra vocês verem o quanto o livro é bom!) como: O Vôo das Borboletas e Lá Vem. Um trechinho de Lá Vem pra vocês: “Lá vem o pato/ Todo leve e sorrateiro/ Lá vem o ganso/ procurando o tempo inteiro/ Lá vem o tigre/ sempre forte e bem voraz”. Vem ganso, vem pato, vem tigrão voraz, tô esperando todos vocês. Desculpem, eu me empolguei. É muuuuuuuuuito difícil escolher a favorita, eu também adoro Serelepe Saci: “Vem, vem bem de mansinho/ Chega e entra sem pedir/ Vai mexendo, vai brincando/ E o tempo vai passando”. Ai, eu quero esse Saci pra mim! As ilustrações também são um luxo! Me lembram tanto a minha infância... os desenhos que fazia quando tinha dois anos de idade... bons tempos aqueles que eu brincava com a mangueira, ops!, na mangueira. Me diverti tanto colorindo os desenhos, que fofo! Ai, quando eu crescer eu também quero ser um grande escritor, ter meu rostinho dentro de uma estrelinha e ser um imortal da Academia Brasileira de Letras! Que luxo! Purpurina pura!