quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Onírico

Por Rodrigo Lopez-Balthar

Para Borges e Hans

A mulher se reproduzia montanha abaixo. Multiplicando-se em cima de discos de vinil. Usava apenas uma calcinha de pano transparente. O movimento de seu quadril me chamou. O primeiro toque que dei foi a com a mão-verga, que ejaculou em cima do disco. Acordei com a imagem da porra branca escorrendo no círculo negro.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

RETORNO

Por Rodrigo Lopez-Balthar




Na foto Albert Camus

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Karl, O punk!

Por Rodrigo Lopez-Balthar


Lá estava Ele sentado no terceiro banco da entrada do Passeio Publico. Embaixo de uma Mangueira. Era um dia chuvoso de inverno, cinzento, com muitas crianças e formigas ao seu redor. Uma das crianças se aproximou e disse com amabilidade:
- Pense.
- Foda-se o sistema! – bradou o imbecil.
Lá estava Ele sentado no terceiro banco da entrada do Pesseio Público. Embaixo de uma Mangueira. Era um dia chuvoso de primavera, luminoso, com muitas crianças, adultos e formigas ao seu redor. Uma das formigas se aproximou e disse com extrema leveza:
- Viva.
- Foda-se o Estado! –gritou o torpe.
Lá estava Ele sentado no terceiro banco da entrada do Passeio Público. Embaixo de uma Mangueira. Era um dia chuvoso de verão, radiante, com muitas crianças, adultos, mangas e formigas ao seu redor. Uma das Mangas se aproximou e disse com doçura:
- Coma
- Foda-se o Poder! – regurgitou o ignóbil.
Lá estava Ele sentado no terceiro banco da entrada do Passeio Público. Embaixo de uma Mangueira. Era um dia chuvoso de outono, nublado, com muitas crianças, adultos, folhas e formigas ao seu redor. Um dos adultos se aproximou e disse sorridente:
- Ame
- Foda-se ... – cacofoniou o infame.
Após esgotar seus clichês, Karl foi tomado pela ira; correu em direção à murada, mas antes de se defenestrar uma folha o transformou em um Urubu e, assim, ele voou bem alto, sobrevoou a cidade, o mundo, as pessoas e as árvores. Depois de um longo tempo no céu pousou em sua cama, abriu os olhos, levantou-se, acariciou seu cachorro e se colocou defronte a porta da cozinha, observou sua Avó – que requentava a borra matinal - por alguns segundos e vociferou olvidando O sonho :
- Já fez o café velha desgraçada!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

TAKEDA É POP

Por Rodrigo Lopez-Balthar


A juventude é um período de conflitos e conceitualmente é tão complicado definir o que é um jovem quanto entendê-los. Num mundo em que a juventude parece prolongar-se além do limite dos trinta anos e a bater já às portas dos quarenta, discutir esta condição é no mínimo arriscado. É isto que faz André Takeda em Cassino Hotel.
O livro trata das escolhas que tomamos neste ponto da vida em que nada é definitivo ainda, e até as mudanças, que em princípio são radicais, parecem ser diluídas no filtro da inconstância.
Takeda lança sobre este momento da vida um olhar dramático, exposto a partir da vida de um ex-roqueiro gaúcho dependente químico, que ganha a vida tocando guitarra para uma cantora pop filha de um cantor sertanejo do interior de São Paulo (qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência), com quem tem um relacionamento amoroso.
Este fato desencadeará seu retorno ao Rio Grande do Sul, mais precisamente, a praia do Cassino, onde reencontrará um grupo de pessoas que foram afetadas pelas escolhas que ele fez num passado não muito distante.
A reaproximação desencadeia uma série de conflitos e transformações na vida de João (este é o nome da personagem principal), que provocam uma série de pequenos dramas em cada um dos reencontros e conduzem-no num ininterrupto processo de reflexão sobre a condição humana e o sofrimento que as nossas tomadas de posição produzem.
Um livro de geração, que parece fazer parte de um projeto mais amplo do autor, que é a de criar no Brasil uma literatura de consumo, sem o ranço acadêmico muito comum em autores brasileiros. Cassino Hotel não tem pretensões, e por isso é pop.


TAKEDA, André. Cassino Hotel. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007


“Quem não sofreu, algum dia, com essa estampa patética? Por que há dois cães? Ou melhor, um, o do cio, que deseja, e depois sua presa impossível, que não deseja e que por não desejar já não é um cão, mas outra coisa: algo inerte, um pedaço de pedra, uma planta, um tronco em forma de cão? Assim, entre aquele que deseja e aquele que não, o que faz papel de ridículo é sempre o primeiro, pois, atirando-se sobre a criatura que não retribui sua atenção não comete um erro de avaliação, nem de cálculo, nem de oportunidade: engana-se de espécie”. (p.310)

PAULS, Alan. O Passado. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

SÉTIMA

Por Rodrigo Lopez-Balthar


Apesar da torcida
eu não fracassei, Mãe. Vi
todo o seu desprezo
por mim acompanhar-me
no desenrolar do dia,
para fazer do fraco
menino homem forte
de consciência em
pé. Agora que nada
resta, olho-te com a
mesma escuridão e
embalo o meu ódio
com a canção dilúvio
de estribilho duro
que sufoca lembranças
suas.

domingo, 7 de outubro de 2007

Como os Romanos

Por Carol Medrado

“”Eu adoro História. É a minha matéria favorita na escola. Eu gosto porque fala de gente importante que fez coisas importantes. Eu também gosto de revista de fofocas. Pra mim, revista de fofoca e História são a mesma coisa. Eu tenho certeza que o nascimento da Sasha um dia entrará num livro de História. Eu gosto de ler e saber sobre coisas e pessoas importantes. Eu nunca fiz nada de importante, mas tô bem conhecida e falada aqui na minha cidade. Na verdade, conhecido aqui, todo mundo é. Já falada, eu sou a celebridade do momento. Eu até que gosto disso, embora eu ache que não fiz nada demais. Filho, todo mundo tem, Gracília, filha da dona da venda, também teve filho aos quinze anos. Ter filho não é nada demais, qualquer mulher pode ter, é só abrir as pernas pra entrar e abrir as pernas pra sair. Já ser a Xuxa, já ser a mãe de Sasha, não é pra qualquer um! Isso é importante. Isso entra pra revista legal e livros de História. Ter filho de um Zé numa terra de ninguém não é nada. Nada! E mesmo assim tá todo mundo me olhando, todo mundo cochichando, todo mundo me apontando. A Xuxa também teve a filha de um cabra e criou a filha sozinha. Por que eu não posso? Não é nada demais ter filho, botar filho no mundo todo mundo bota. Só porque eu não quero dizer quem é o cabra, o cabra safado, como diz painho. Não digo, não, painho. Eu só digo que foi aqui na beira do rio. Foi na beira do rio e foi bom. Foi bom, eu gostei. Mas agora não posso mais fazer, agora ninguém me quer mais. Agora eu vou pra praça e as meninas fica com quem quer e eu fico só olhando. E vai ser aqui na beira do rio que ele vai nascer. Ele vai se chamar Rômulo. Eu até já comprei a cestinha, sei que será difícil no início. Mas só assim ficarei conhecida. Serei a mãe do fundador de um império””.