domingo, 1 de abril de 2007

FUJAM CÉREBROS!

Por Rodrigo Matos
Recentemente foi noticiado (A TARDE 04/03/2007) que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Ministro da Educação Fernando Haddad lançariam um programa contra o que eles chamam de “fuga de cérebros“, ou seja, para permanência no país de recém doutores assediados por universidades estrangeiras. Quando comecei a ler a notícia me perguntava o que poderia fazer o governo para impedir que tal fato acontecesse, e é ai que reside a graça de tudo, eles pretendem manter os jovens doutores no Brasil com 3.300,00R$ (aproximadamente 1.500 U$) mensais por dois anos, a título de incentivo! O que não chega a 10% do que este doutor pode ganhar em algumas instituições no exterior nem compensa os esforços deste para se doutorar.
Para chegar ao doutoramento um estudante brasileiro leva em média 11 anos na educação básica, financiada pelos pais no sistema privado ou no ensino público, já de notória ineficiência; mais quatro anos num curso de graduação, nas Universidades públicas para aqueles que fizeram a educação básica no sistema privado e nas Faculdades privadas para os que cumpriram o suplício do ensino secundário publico; mais um ano e meio em curso de especialização financiado pelo próprio bolso do estudante, que a esta altura já esta trabalhando e conciliando seus estudos de pós-graduação; mais dois anos no mestrado, cujas bolsas são em número inexpressivo em comparação ao número de programas de pós-graduação strictu sensu existentes no país e, mesmo quando bolsista o estudante não consegue cobrir os custos com moradia, alimentação e livros com os 850,00 R$ oferecidos, tendo que conciliar sua pesquisa com trabalho clandestino em instituições privadas de ensino superior, já que a bolsa o impede de trabalhar... e por fim chegam os quatro anos do doutorado, período de pesquisa consistente e de dedicação a um projeto de tese, que pode se transformar em patentes, produtos, projetos de intervenção, programas de educação, dito de outra maneira, em retorno para a sociedade. Se o indivíduo tiver tido sorte, pois não se trata apenas de competência, estará trabalhando em alguma Universidade pública como professor e pode pedir licença remunerada, caso esteja atuando no ensino privado terá que conciliar sua pesquisa com trabalho, caso seja azarado estará desempregado e sofrerá a dura pena de desenvolver uma pesquisa, que mesmo apoiada por uma bolsa institucional não consegue cobrir suas despesas com moradia, alimentação, deslocamentos para congressos e custos com material de pesquisa, que vão muito além dos livros.
Ao todo o estudante passou 22 1/2 anos em todo este processo, buscando o crescimento intelectual e científico, quase em desamparo governamental, já que no Brasil - diferente dos Estados Unidos, União Européia e China, para não falar de países menores e mais pobres como Cuba, Chile e Gana - não possui nenhum mecanismo de identificação e apoio a jovens que possuam potencialmente algum tipo de habilidade que no futuro possam se transformar em objetos de pesquisa. Aqui depende única e exclusivamente de você o sucesso de sua empreitada como cientista, os orientadores só aparecem quando você já tem um projeto e o apoio quando você já está vinculado a um programa de pós-graduação. O resultado disso é simples, nos Estados Unidos os doutores (lá chamados Ph.D) tem média de 30 anos de idade e muitos com menos que isso, já no Brasil eles têm mais de 50 anos, pois tem que conciliar seu espírito de pesquisador com o de sobrevivência.Portanto se você é um Jovem ou Recém Doutor e acabou de receber uma proposta tentadora de alguma Universidade do exterior não pense duas vezes e vá, pois o mérito é só seu.

Um comentário:

Anônimo disse...

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