quarta-feira, 23 de maio de 2007

Numa delegacia, num bairro com nome de santo da cidade de São Salvador

Por Rodrigo Matos


- Vamos lá rapaz, isto aqui é uma delegacia, tá pensando que eu tenho a noite toda... – Bradou o policial irado
- Não senhor, é que eu... eu... eu não sei bem ao certo o que aconteceu... eles estavam lá, gritavam... ou... diziam e eu não agüentei!
- Foi você que deu os tiros?
- Sim, eu acho...
- Acha? Que porra é essa?
- É que... eu não sei ...foi algo muito estranho, entende doutor?
- Você deu um teco, num foi?
- Não, hoje não, tava limpo, juro... – fazendo sinal da cruz com os dedos.
- Ahhhaha...essa foi boa mas não cola.
- Juro, é que eles, quero dizer, as coisinhas estavam lá do outro lado da porta; e eu fiquei atormentado. Eu olhava pelo olho mágico e eles não iam embora, eu dizia... dizia: vão embora, porra! E eles ficavam lá, olhando para frente... e todo dia eles voltavam no mesmo horário nem adiantava me esconder...
- ...conta tudo desde o início...- falou irritado o policial, que não entendia nada.
- ...Tô contando, num percebeu...
- ...olha o respeito seu filho da puta...
- ...sim senhor.
- Então fale, você deu os tiros ou não no casal?
- Dei, eles não iam embora, eu fui lá dentro e peguei o 3oitão e fui em direção a porta... e eles começaram a falar aquelas coisas... ai eu não agüentei e descarreguei o revolver naquelas duas coisinhas.
- Mas que merda esses filhos duma mãe falavam?
- O homem dizia:
“ Testemunhas de Jeová, bom dia”
- E a mulher:
“ Você gostaria de comprar a revista Sentinela”

- Entendo – resmungou o policial.


Texto inédito, jamais publicado, caso copie mantenha-o intacto, por favor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Rodrigo, tudo bem? Pode mandar o pessoal perguntar. Valeu. Um grande abraço e vida longa.