segunda-feira, 25 de junho de 2007

Timoleon Vieta, um outro cão


Por Carol Medrado



Dan Rhodes tem sido muito elogiado na Inglaterra, destacando-se como um dos mais novos talentos da literatura britânica o que, na minha opinião, não é à toa. Li o livro Timoleon Vieta ... em três dias e confesso que foi duro me despedir do personagem de olhos dóceis.Timoleon Vieta foi meu amigo por três dias. Timoleon Vieta é um cão vira-lata como todos os outros cães vira-latas, exceto pelos seus olhos tocantes, o que acaba fazendo com que penetre na vida das pessoas, mesmo que por um curto espaço de tempo e, no entanto, deixa marcas. O cãozinho pertence a Cockroft, um compositor britânico fracassado cuja maior diversão é receber “amigos desconhecidos” em sua casa. É recebendo um desses “amigos”, o Bósnio, que ele se vê num impasse entre o cão e a visita: os dois se odeiam e seu amigo impõe uma escolha. Cockroft, angustiado pela solidão iminente, escolhe o Bósnio e resolve abandonar seu companheiro de tantos anos em frente a Torre de Pisa. A partir daí o livro se assemelha com tantas histórias da sessão da tarde de cachorrinhos perdidos que voltam para casa, mas o livro não deve ser subestimado por isso. Nessa jornada de Timoleon Vieta para casa, acabamos adentrando na vida de inúmeros personagens que têm suas histórias descritas no livro como pequenos contos. O livro em alguns momentos exagera no sentimentalismo, mas acredito que essa seja a intenção do autor, como é explicitado no título. O interessante é perceber o impacto que a existência desse cãozinho acaba tendo na vida dos personagens e o afeto que acaba nutrindo em todos eles. Afinal ele é só um cão (como se isso fosse pouco) e não pode fazer nada além de balançar seu rabo e olhá-los como seus olhos maravilhosos e isso é o suficiente para aplacar a dor de alguns personagens. Isso deixa evidente que muito mais do que a história de um cachorro que tenta voltar para casa, o livro é a história do amor em seus múltiplos desdobramentos como o abandono, a solidão, a lealdade e a perda. É impossível até mesmo para o leitor não ser tocado pelo personagem. Acho que vou passar um bom tempo olhando os vira-latas de rua de maneira diferente: os olhos de Timoleon Vieta também deixaram marcas na minha vida.




Resenha de RODHES, Dan. Timoleon Vieta volta para casa: uma viagem sentimental, tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

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