quarta-feira, 4 de julho de 2007

Até o chão, mamãe!

Por Carol Medrado

Era mais uma fantástica manhã de sol em Salvador, Bahia, terra do axé, do carnaval, da água de coco, da eterna alegria e de mentes criativas que se superam a cada carnaval criando hits como: “só as cabeças, só as cabecinhas...”. Enfim, ela estava no paraíso. Sua vida ia bem, ela era uma grande advogada, ganhava muito dinheiro, tinha um marido gostosão, uma casa de frente para o mar e podia escolher em que bloco iria sair no carnaval. Geralmente era no Camaleão. Sua vida era perfeita. Mesmo assim, em uma fantástica manhã de sol em Salvador, ela decidiu se suicidar. Estava no trabalho, ia ser ali mesmo, do alto do prédio de trinta andares. Jogou-se.

Tão rápido quanto a queda, surgiu o seu arrependimento.
Pensou no caso importante em que tinha que trabalhar.
Arrependeu-se.
Lembrou que era pecado atentar contra a própria vida.
Arrependeu-se.
Pensou no seu abadá do Camaleão já pago.
Quanto arrependimento!
Lembrou da sua casa maravilhosa.
Arrependimento.
Da sua beleza e juventude.
Arrependimento.
Do seu dinheiro.
Arrependimento.
Salvador.
Arrependimento.
Chiclete com Banana.
“Meu Deus, o que é que eu fiz!?”
Carnaval.
“Socorro, Socorro!!!!!!”
“Já era, já era, já era, agora eu amo Daniela, já era...”
“Não quero morrer!”
“Passou a língua, tem que provar, na língua do negão, ajoelhou tem que rezar...”
“Pai nosso que estais no céu...”
“Voa, voa, vem direto pro meus braços...”
“Santificado seja o vosso nome...”
“Paula dentro, Paula fora, Paula deixe de história...”
“Deus, me salva!”
“Quer ir embora vai, adeus, bye, bye...”
“Um milagre, por favor!”
“Swingão, swingão, swingão, vai até o chão...”
Plaft!

Imediatamente sua alma foi levada por diabinhos de bandana que cantavam: “Tra, tra, ela tá toda metralhada...”. Sorriu: sua alma estava em paz.

Um comentário:

Rodrigo Lopez-Balthar disse...

Vc está cada vez melhor....